Pioneira no transplante de córneas, Minas Gerais foi, em 2014, um dos dez Estados que mais realizaram o procedimento, com 72,4 cirurgias por 1 milhão de pessoas. Dez anos depois, a realidade é outra: em 2023, o Estado esteve entre os oito piores nesse índice, com 43,5 procedimentos por 1 milhão de pessoas. O levantamento anual da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos também mostra aumento de mais de 53 vezes no número de pessoas na espera por uma córnea em Minas no intervalo, de 64 para 3.402. No Brasil, a fila dobrou (veja dados abaixo). Falta de incentivo à doação e precariedade na estrutura de captação são as principais causas da piora, disseram especialistas a O Tempo.
E no primeiro trimestre de 2024, a situação se agravou: Minas figura entre os cinco piores Estados em número de transplantes de córnea por 1 milhão de pessoas. O índice é 45,8. “É uma situação crítica. Temos muitos centros e médicos transplantadores de referência, mas não temos córnea suficiente”, diz a coordenadora do serviço de córnea do Hospital das Clínicas da UFMG, Sabrina Cavaglieri.
Para ela, é necessário investir na conscientização da população e na melhor estruturação das equipes especializadas em captar doadores nos hospitais: “Ao ter a disponibilidade de órgãos, já é preciso acionar essas equipes, que têm que ser maiores e mais envolvidas”.
Um dos principais fatores que, segundo a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), demandam o transplante de córnea, o ceratocone é o foco do Junho Violeta, campanha da Sociedade Brasileira de Oftalmologia que busca conscientizar sobre a condição e os sinais da doença. No Estado, entre 2014 e 2023, o número de novos diagnósticos da enfermidade subiu de 210 para 314.