Aumento de diesel e frete pode ameaçar medidas do governo para frear inflação de alimentos
Problemas crônicos ligados à infraestrutura logística nacional impactam diversos setores.
As medidas anunciadas pelo governo para tentar conter a inflação dos alimentos, zerando impostos de importação, devem ser impactadas por problemas crônicos ligados à infraestrutura logística nacional, usada no escoamento de sua produção.O ano começou com sinais de que terá mais uma safra recorde de soja, um cenário a ser comemorado.
Acontece que essa mesma colheita tem consumido a maior parte dos caminhões disponíveis no país, comprometendo outras colheitas em andamento, além de refletir o aumento do preço do frete, puxado pelos ajustes recentes do óleo diesel.
O próprio governo sente na pele os efeitos da infraestrutura precária. Na semana passada, uma das empresas que transportam milho para a estatal Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) jogou a toalha. Em um ofício, ao qual a reportagem teve acesso, a empresa Padrão Transportes de Cargas e Logística afirma que vai ter que suspender a entrega de 500 toneladas encomendadas pela Conab, porque não encontra caminhão disponível e por causa do preço do frete.
Sediada em Pernambuco, a empresa de logística venceu uma licitação da Conab para carregar 10 mil toneladas de milho e decidiu pedir uma suspensão de 45 dias para realizar o serviço, concentrado nos estados do Piauí e da Paraíba.”Em paralelo ao transporte de milho, está ocorrendo o transporte de soja, o que tem impactado, de forma bastante significativa, o frete a ser contratado para o transporte do milho.
Isto porque a safra de soja – destaque-se, a maior registrada neste ano- elevou o valor do frete e reduziu a quantidade de caminhoneiros interessados em realizar viagens de longa distância, afirma a empresa.
Em Mato Grosso, estima-se que mais de dois terços da soja já foram colhidos. Como o transporte não pode demorar, o resultado são longas filas com milhares de caminhões nas
principais estações de transbordo do país, como Rondonópolis (MT) e Itaituba (PA).
“Verifica-se, ainda, além da alta safra de soja, o aumento no valor do diesel, que também impacta consideravelmente o valor do frete”, diz a transportadora.Paulo Bertolini, presidente da Abramilho (Associação Brasileira dos Produtores de Milho), diz que o reajuste do diesel já fez o frete subir entre 30% e 40% em relação ao ano passado, dependendo da região do país.
À dificuldade de transporte, diz ele, soma-se a falta de estrutura para armazenamento de grãos.